Playlist 07. 01/10 - Estudos da Mente no Final do Século XX: Piaget e Vygotsky
Voltemos aos estudos que tratam da mente, agora antes mesmo da Revolução Cognitiva, ainda no século XX.
Leitura Recomendada
Leitura Recomendada
- Piaget, J., & Inhelder, B. (1993). A psicologia da criança. Lisboa: Edições Asa, 1993. (cap. 3)
- Vygotsky, L.S. (1991) A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes. Veremos o capítulo 1 (O instrumento e o símbolo no desenvolvimento da criança ) e o capítulo 5 (problemas de método)
Leitura Compelementar
- Andrade, P. E., & do Prado, P. S. T. (2003). Psicologia e Neurociência cognitivas: Alguns avanços recentes e implicações para a educação. Interação em Psicologia, 7(2). Acessado em: https://revistas.ufpr.br/index.php/psicologia/article/viewFile/3225/2587
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Atividade
Na Playlist 05, especificamente no artigo de Neufeld e cols, os autores falam: "a Psicologia Cognitiva Experimental é apenas
uma das teorias que compõem o Cognitivismo, dividindo
espaço com as teorias de Piaget, Vygotsky, Wallon, Ausubel
e os representantes atuais das mesmas. Estas teorias diferem
da Psicologia Cognitiva Experimental principalmente em
relação aos seus pressupostos epistemológicos [...]" (p. 105).
- Façamos dois grupos. Sugiro: Josene, Carol Granja, Renan como grupo 1; Maurício, Carol e Robson, como grupo 2.
- Cada grupo, individual ou coletivamente, apresenta aqui um resumo das ideias de Vygotsky (grupo 1) e Piaget (grupo 2). O resumo deve ser breve, apresentando o(s) ponto(s) central de defesa na leitura recomendada
- Em seguida, o grupo 1 lê as postagens do resumo do grupo 2, e sugere aqui as bases epistemológicas que lhes parece caracterizar o pensamento do estudioso de referência do grupo 2. O mesmo será feito pelo grupo 2.
Jean Piaget teceu importantes contribuições para psicologia do desenvolvimento, de modo geral é possível destacar que sua obra trata do desenvolvimento da inteligência na criança e da construção do conhecimento. Em seu método, buscou criar situações problemas para verificar se crianças de várias idades conseguiam resolver, percebendo quais as dificuldades que encontravam. Maior parte de sua obra foi construída em cima desse tipo de experimento, porém, também realizou alguns estudos observatórios com seus três filhos.
ResponderExcluirEm seus estudos e método, buscou responder uma pergunta: como o conhecimento é construído?, objetivando compreender quais processos e etapas. Em sua teoria, define inteligência enquanto função e enquanto estrutura, destacando que seu crescimento acontece a partir de reorganizações. Neste processo de construção do conhecimento por parte dos sujeitos, destaca alguns conceitos importantes:
1) Assimilação - o sujeito entra em contato com o objeto do meio, retira informações dele e as interpreta;
2) Acomodação - é a modificação de estruturas internas a partir das vivências, ou seja, organizar as informações sobre o objeto do meio reestruturando o que já se sabe;
3) Equilibração - estabilidade da organização mental;
De acordo com o teórico, o desenvolvimento da inteligência acontece por saltos/rupturas, neste contexto, cada estágio do desenvolvimento representa uma qualidade dessa inteligência. Significam, também, que a sequência do desenvolvimento da inteligência necessariamente passa por esses estágios de maneira gradativa, sendo um estágio a superação do anterior. Os estágios destacados por Piaget são:
1) Sensório-motor (0 a 24 meses) - existe uma inteligência pré-verbal considerada como inteligência prática por ser uma fase do desenvolvimento da inteligência em que a criança não emprega a fala, mas apenas suas ações (motor) e percepções (sensorial);
2) Pré-operatório (2 a 7 anos) - um conceito essencial desse estágio é o de representação; as operações significam exatamente organizar as representações de uma maneira coerente e estável; Pontos importantes dessa fase: introdução à fala; introdução à moralidade; egocentrismo;
3) Operatório (a partir dos 7 anos) - ação interiorizada reversível, ou seja, o ato de pensar uma ação e anulá-la em pensamento. No operatório concreto (até 12 anos), é necessário a existência física de objetos que possam ser manipulados e situações que a criança possa vivenciar ou lembrar da vivência. No operatório formal (a partir dos 12 anos), se trabalha com hipóteses; nesse estágio a criança é capaz de aplicar sua lógica a contextos que sejam puramente hipotéticos e, também, totalmente estranhos à sua vivência. A diferença do concreto é um grau de abstração.
Em resumo: Sensório: ação; Pré-operatório: ação interiorizada; Operatório: ação interiorizada reversível. Os estudos de Piaget trouxeram importantes contribuições na compreensão do comportamento infantil, oferecendo importantes instrumentos para os campos da Psicologia e da Educação.
Carol Mota
Ok Carol, obg. No aguardo das demais contribuições até para que você possa fazer o resumo epistemológico sobre Vygotsky
ExcluirComentários do Grupo 1 - Carol, Josene e Renan
ExcluirPiaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, nascido no século XIX. Elaborou uma teoria sobre o desenvolvimento da inteligência pautada em conceitos tais quais a assimilação, acomodação e equilibração. Tais conceitos buscam explicar os modos pelos quais a criança, em interação com o meio, constrói conhecimento, considerado como resultado de um processo de construção ativa do sujeito.
Considerando que a aprendizagem resulta de um processo de acomodação de nas estruturas cognitivas, tomava o amadurecimento biológico e psicológico (maturação) como fatores determinantes.
Piaget baseou-se na biologia ao postular que um organismo tende ao equilíbrio, característica comum a todos os indivíduos, independentemente de suas características individuais (país de origem, sexo ou idade). Sua teoria ilustra uma busca pela universalidade. Ele era naturalista e acreditava no desenvolvimento do sujeito como uma essência universal, algo que está na sua genética. O objeto de estudo do autor é o sujeito epistêmico, sendo que esta escolha já revela a intenção universalista de sua investigação.
A teoria da equilibração deve ser compreendida dentro de outra teoria, a teoria de sistemas, utilizada como base epistemológica na explicação da inteligência. Já o conceito de reversibilidade é oriundo da Lógica. A metodologia adotada em suas investigações, nos parece, revela um alinhamento com os pressupostos Kantianos, privilegiando a estrutura mental e os processos de dedução realizados pelo indivíduo. Assim sendo, suas formulações teóricas se aproximam do campo do estruturalismo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA função semiótica ou simbólica em Piaget
ResponderExcluirÉ no início do período pré-operacional, ao fim do estágio sensório-motor, em torno do 1º ano e meio de vida aos 2 anos, que a habilidade das crianças em representar simbolicamente o significado das coisas começa a emergir. Tal feito dá-se através da apropriação processual de significantes: linguagem, imagem mental, gesto simbólico, etc.
Ao observar crianças típicas no estágio sensório-motor Piaget afirma não ser possível observar indícios no comportamento delas que nos leve a considerar o uso de representações para objetos ausentes; salvo quando pistas indicam da proximidade daquele objeto, onde é possível notar uma interação em tempo real da criança com aquele objeto ausente, mas que se faz presente devido as pistas sensoriais (PIAGET; INHELDER, 2012). Nesses casos, a significados e significantes referem ao próprio percebido, que se distinguem das outras coisas por suas propriedades de estimulação sensorial na criança; não há, portanto, no estágio sensório-motor representação simbólica (PIAGET; INHELDER, 2012).
É com o decorrer do desenvolvimento que, por volta do 2º ano, Piaget defende que a criança se apropriará de condutas que evidenciam, na interação desta com o mundo, a representação de objetos e/ou acontecimentos ausentes; essa apropriação acontece através da aquisição de de 05 condutas, enumeradas a seguir segundo a ordem de complexidade (PIAGET; INHELDER, 2012):
1) Imitação deferida – Na ausência do modelo, a criança inicia comportamentos de imitação, compreendidos como gesto representativo do acontecimento/objeto ausente. Ex. Divertir-se imitando o comportamento do cachorro, etc;
2) Jogo simbólico – Podemos chamar também de jogos de ficção e diz respeito a comportamentos em que a criança simula uma experiência através do gesto representativo e vai incorporando objetos/símbolos para representar elementos da experiência. Ex. A criança se aconchega no colo da mãe e fingi estar dormindo ao fechar os olhos e tomar a conduta simbólica da posição de dormir.
3) Desenho – A criança utiliza a imitação gráfica para representar, objetos/acontecimentos ausentes. Ex: rabiscos e garatujas que são investidas de representação simbólica pela criança;
4) Imagem Mental – É uma forma de representação através da imitação interiorizada. Ex: representação imagética do brinquedo favorito;
5) Linguagem – Trata-se da utilização de evocações verbais como significantes para objetos/acontecimentos não atuais. A criança adquire a habilidade de utilizar gradualmente sons/gestos/imagens para representar seu mundo. Ex. Chamar pela “mamãe” ao acordar a noite.
Como vê-se na sucessão de condutas para apropriação da função simbólica, fica evidente a importância da função de imitação generalizada enquanto habilidade particular do estágio sensório-motor que proporciona uma representação fora de ato, onde os objetos e acontecimentos não estarão presentes materialmente, tornando-se presentes por sua representação através da imitação diferida dos demais elementos da realidade presente (PIAGET; INHELDER, 2012).
Com a imagem mental, as imitações complexificam-se, tornando-se interiorizadas, diferindo-se de todo contexto exterior da criança, onde o objeto/acontecimento não está presente materialmente.
Por fim, a função semiótica se estabelece enquanto habilidade com duas formas de uso: os símbolos, que apesar de apresentarem diferenças, possuem semelhanças com os seus significados, e os sinais, que possuem significados convencionados arbitrariamente.
Mauricio da Silva
Grupo 01 - Carol Granja, Josene, Rennan
ResponderExcluirCap. 01
Vygotsky buscou caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento, para gerar hipóteses sobre como tais características se formaram ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo. Para situar esta análise, Vygotsky considera três aspectos: a) Qual a relação entre os seres humanos e o seu ambiente físico e social?; b) Quais as formas novas de atividade que fizeram com que o trabalho fosse o meio fundamental de relacionamento entre o homem e a natureza e quais são as consequências psicológicas dessas formas de atividade?; e c) Qual a natureza das relações entre o uso de instrumentos e o desenvolvimento da linguagem?
Vygotsky traça uma reflexão sobre algumas teorias do desenvolvimento humano ao longo do tempo. Primeiramente, observa as aproximações entre a psicologia infantil e as ideias oriundas da botânica, que admitia que a mente da criança continha todos os estágios do futuro desenvolvimento intelectual; eles já existiriam na sua forma completa, esperando o momento adequado para emergir. E, depois, as aproximações do desenvolvimento das funções psicológicas superiores com os paradigmas da zoologia, como se aquelas fossem extensão direta dos processos correspondentes nos animais inferiores. Essa maneira de teorizar aparece particularmente na análise da inteligência prática das crianças, cujo aspecto mais importante é o uso de instrumentos.
Ao contrário do preconizado por Buhler, Vygotsky defendia o embricamento da fala e do raciocínio prático, inclusive em situações nas quais havia uso de instrumentos. A partir daqui, chega a duas conclusões importantes:
1) Embora a inteligência prática e o uso de signos possam operar independentemente em crianças pequenas, a unidade dialética desses sistemas no adulto humano constitui a verdadeira essência no comportamento humano complexo. A análise de Vygotsky atribui à atividade simbólica uma função organizadora específica que invade o processo do uso de instrumento e produz formas fundamentalmente novas de comportamento.
2) O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem.
Considera por fim que a história do processo de internalização da fala social é também a história da socialização do intelecto prático das crianças. Inicialmente a fala segue a ação, sendo provocada e dominada pela atividade. Posteriormente, entretanto, quando a fala se desloca para o início da atividade, surge uma nova relação entre palavra e ação. Nesse instante a fala dirige, determina e domina o curso da ação; surge a função planejadora da fala, além da função já existente da linguagem, de refletir o mundo exterior.
Grupo 01 - Carol Granja, Josene, Rennan
ResponderExcluirCap. 05
Apesar da grande diversidade dos detalhes de procedimento, os experimentos psicológicos baseiam-se em uma estrutura de estímulo-resposta. Ou seja, independentemente do processo psicológico em discussão, o psicólogo procura confrontar o sujeito com algum tipo de situação-estímulo planejada para influenciá-lo de uma determinada maneira, e, então, examinar e analisar a (s) resposta (s) eliciada (s) por aquela situação estimuladora.
Três princípios formam a base na análise das funções psicológicas superiores. O primeiro leva-nos a distinguir entre a análise de um objeto e a análise de um processo. Assim, a psicologia do desenvolvimento, é que fornece a abordagem da análise que necessitamos. Qualquer processo psicológico, é um processo que sofre mudanças a olhos vistos. O desenvolvimento em questão pode limitar-se a poucos segundos somente, ou mesmo frações de segundos. Pode também (como no caso dos processos mentais complexos) durar muitos dias e mesmo semanas. Sob certas condições torna-se possível seguir esse desenvolvimento.
Segundo, na psicologia introspectiva e associacionista, a análise consiste, essencialmente, numa descrição e não numa explicação como nós a entendemos. A mera descrição não revela as relações dinâmico-causais reais subjacentes ao fenômeno. Estudar um problema sob o ponto de vista do desenvolvimento, quer dizer revelar um problema sob o ponto de vista do desenvolvimento, revelar a sua gênese e suas bases dinâmico-causais.
O terceiro, fundamenta-se no fato de que, em psicologia, defrontamo-nos frequentemente com processos que esmaeceram ao longo do tempo, isto é, processos que passaram através de um estágio bastante longo do desenvolvimento histórico e tornaram-se fossilizados. Estudar alguma coisa historicamente significa estudá-la no processo de mudança; esse é o requisito básico do método dialético.
O objetivo e os fatores essenciais da análise psicológica são: (1) uma análise do processo em oposição a uma análise do objeto; (2) uma análise que revela as relações dinâmicas ou causais, reais, em oposição à enumeração das características externas de um processo, isto é, uma análise explicativa e não descritiva; e (3) uma análise do desenvolvimento que reconstrói todos os pontos e faz retornar à origem o desenvolvimento de uma determinada estrutura.
O resultado do desenvolvimento não será uma estrutura puramente psicológica, como a psicologia descritiva considera ser, nem a simples soma de processos elementares, como considera a psicologia associacionista, e sim uma forma qualitativamente nova que aparece no processo de desenvolvimento.
Grupo 01 - Carol Granja, Josene, Rennan
ResponderExcluirContinuação Cap. 05
Para estudar as reações de escolhas, Vygotsky buscou examinar todo o processo de equilibração da reação, onde envolve o estudo de como essa reação aparece incialmente, como toma forma, e depois quando está estabelecida. Para isso, foi feito um experimento, onde é apresentado vários estímulos ao indivíduo, no qual ele tem que responder de diferentes maneiras. Primeiro é apresentado estímulos auxiliares, que mantem uma relação lógica, estabelecendo uma reação de escolha. Por exemplo imagens de fácil associação, como colher com uma panela, um carro com um ônibus. Neste caso as crianças eram mais propensas a estabelecer uma certa regra, ao associar esses itens exatamente como descrevemos. No segundo momento, quando é trocado os estímulos como colher e carro, as crianças não conseguem criar relações, e exigem que o carro seja trocado pela panela (como havia feito anteriormente). VYGOTSKY (1991, p. 52) diz que esse acontecimento ocorre quando a criança ainda está adquirindo experiencia e mediando a estrutura de sua memorização. Após os compreendidos a criança é capaz de estabelecer seus próprios significados para cada símbolo (ônibus, panela, carro, colher...) conseguindo associa-los de diferentes maneiras.
Vygotsky também tentou relacionar o comportamento da criança com os estágios de desenvolvimento da mesma. Negando que o desenvolvimento seja uma acumulação gradual de mudanças isoladas. VYGOTSKY (1991, p. 52) defende que o experimento é igualmente válido se, ao invés do experimentador fornecer às crianças meios artificiais, esperar até que elas, espontaneamente, apliquem algum método auxiliar ou símbolo novo que elas passam, então, a incorporar em suas operações. Para isso é utilizado o método da estimulação dupla, onde provoca manifestações dos processos cruciais no comportamento de pessoas de todas as idades. Este método é importante porque ajuda a tornar objetivos os processos psicológicos interiores; os métodos de associação entre estímulos e respostas são objetivos, limitando-se, no entanto, ao estudo das respostas externas já contidas no repertório do sujeito.
Epistemologia:
ResponderExcluirA importância de Piaget vem tanto da consistência e volume de sua obra quanto dos tópicos relativos à psicologia da inteligência. A teoria de Piaget é uma epistemologia, ou seja, uma teoria do conhecimento com foco na construção desse conhecimento. A sua pergunta é uma pergunta epistemológica: como os seres humanos constroem conhecimento? Partindo de uma perspectiva estrutural, a inteligência é uma organização de processos. E em uma perspectiva funcional o conhecimento envolve uma adaptação, tem a finalidade do sujeito sobreviver e adaptar-se ao meio. O conhecimento então não se dá por acúmulo de informações, mas por uma reorganização do próprio conhecimento no qual o indivíduo absorve novos conhecimentos de forma seletiva, com base naquilo que já possui, de forma interpretativa (chamado de assimilação). As organizações que a pessoa tem para conhecer o mundo são capazes de se modificar dando conta de singularidades do objeto de conhecimento (chamado acomodação), criando então novas organizações desse conhecimento em um processo contínuo e dinâmico de organização e adaptação. Piaget era biólogo e isso se demonstra nos usos de termos emprestados da biologia para o estudo dos processos de conhecimento. Conhecer algo é uma busca constante pelo equilíbrio. As informações retiradas do objeto de conhecimento (empírica) juntamente com as informações da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento (reflexiva) moldam a construção do conhecimento. O desenvolvimento desse conhecimento então possui uma lógica em saltos, com uma sequencia de transformações que fazem a criança passar de um nível de menor conhecimento, para um de maior conhecimento enquanto adulto. Em termos epistemológicos, então ocorre um processo de construção do universo e suas causalidades, espaço e tempo no qual os objetos vão se tornando representados mentalmente quando ausentes e então passam por operações nestas representações do conhecimento.
Resumo:
ResponderExcluirA capacidade de pensar um objeto através de um outro objeto é chamada de representação e constitui uma função fundamental da inteligência que é a função semiótica ou simbólica. Ou seja, o objeto é apresentado de novo a partir de um substituto do objeto e na ausência dele. Essa perspectiva epistemológica é representacional, porém não em analogia à computação, mas em analogia a processos assimilatórios e de ajustes como na biologia. Sobre a Função Semiótica, resume-se os seguintes pontos importantes para se entender a gênese do conhecimento, segundo Jean Piaget.A função simbólica surge ao final do período sensório motor quando iniciam-se as representações, através de um conjunto de condutas que supõe a evocação de um objeto ou evento ausente.
A imitação prefigura a representação sensório motora e a passagem deste sensório motor ao período representativo. Esta culmina nas imitações diferidas (imitação temporalmente separada do objeto imitado)
O jogo simbólico (brincadeira simbólica, teatro, gestos imitativos) é uma conduta que corresponde a função essencial de adaptação a um mundo com regras físicas e simbólicas, que envolve a transformação do real por assimilação às necessidades do eu. Esse possui sistema de símbolos próprios tomando a imitação como instrumento e meio evocador a serviço da evocação lúdica. A assimilação sistemática dada pelo jogo simbólico consiste em construir símbolos a vontade para exprimir tudo que na experiencia vivida só poderia ser formulado por meio da linguagem.
O desenho é outra conduta que faz parte da função semiótica e se inscreve a meio caminho do jogo simbólico e da imagem mental. O realismo do desenho passa por diferentes fases, saindo de aspectos topológicos a aspectos projetivos a medida que vão se conformando a métrica intervalar e saindo de uma métrica ordinal. A evolução do desenho é solidária com toda a estruturação do espaço, conforme os diferentes estágios do desenvolvimento.
As imagens mentais apesar de terem conexão com a percepção, não são uma cópia ativa dos quadros perceptivos. Seu caráter simbólico se encontra nas formas como é representada, sejam elas imagens reprodutivas com semelhança a percepção, quanto imagens cinéticas e transformações imagéticas que aparecem concomitante aos saltos de equilibração que perfazem a construção do conhecimento simbólico.
O desenvolvimento da memória, de reconhecimento e de evocação (representação propriamente dita) faz supor que o aspecto figurativo dos sistemas de esquemas em sua totalidade inicia-se nos processos sensório motores elementares com o reconhecimento perceptivo e segue aos esquemas superiores com aspecto figurativo na lembrança-imagem. Essa lembrança imagem parece constituir uma imitação interiorizada, que comporta também o elemento motor e processos conservativos (mesmo que rudimentares no início da função semiótica).
Resumo: continuação.
ResponderExcluirE por fim, a outra conduta que Piaget se refere que compõe a função semiótica é a linguagem. Estudos comparando crianças falantes com crianças surdas-mudas e crianças videntes com crianças cegas revelam que há uma conservação de um mínimo de informações necessárias durante a aquisição das estruturas gramaticais e sintaxe através de construções diferenciação de fonemas por imitação, gerando então os esquemas verbais que se complexificam. A linguagem não constitui a origem da lógica, mas é estruturada por ela e estrutura o pensamento mais complexo e verbal, à medida que as ações progridem apoiando-se no próprio processo de comparação. A linguagem é dada pela sociedade e permite o indivíduo se libertar do esquema espaço-temporal próximo a partir da aprendizagem de um conjunto de instrumentos cognitivos de relações e classificações que está a serviço do pensamento.
Em suma, a imitação diferida, o jogo simbólico, o desenho, as imagens mentais e a linguagem constituem a unidade da função semiótica, atuam em conjunto e são construídas e se desenvolvem mediante a organização da própria inteligência para lidar com objetos ou acontecimentos não percebidos no momento presente e fornecem, portanto, ilimitado campo de ação ao pensamento representativo, em oposição as fronteiras sensório-motoras.
Vigotski - Epistemologia:
ResponderExcluirEm sua teoria, Vigotski destaca os planos genéticos pontuando quatro aspectos do desenvolvimento que juntos caracterizariam o funcionamento psicológico do ser humano. São eles:
• Filogênese: História de uma espécie animal que define limites e possibilidades do funcionamento psicológico;
• Ontogênese: Desenvolvimento de um indivíduo de uma determinada espécie. Este aspecto está ligado à filogênese, pois os dois são de natureza biológica - diz respeito a pertinência do homem a determinada espécie e por ser membro dessa espécie passa por um percurso do desenvolvimento e não outro;
• Sociogênese: História da cultura onde o sujeito está inserido. As formas de funcionamento cultural que interferem no funcionamento psicológico, que definem de certa forma o funcionamento psicológico, funciona como um alargador das potencialidades humanas. Cada cultura organiza o desenvolvimento de uma maneira diferente;
• Microgênese: Cada fenômeno psicológico tem sua própria história, o micro é focar no desenvolvimento de um determinado fenômeno.
A Filogênese e a Ontogênese de certa forma carregam um certo determinismo biológico, ou seja, o sujeito está atrelado as possibilidades da sua espécie, do seu momento de desenvolvimento como 'ser' daquela espécie. Na Sociogênese existe uma certa linha determinista em termos culturais, a cultura está definindo por onde você pode se desenvolver, está dando também limites e possibilidades históricos de desenvolvimento. Na Microgênese o olhar é direcionado para o fato do pequeno processo de cada fenômeno e sua história de maneira singular.